NUTRIÇÃO EQUILIBRADA
Cadeia do amendoim amadurece e tende a crescer, diz estudo da Fiesp
O valor bruto da produção agrícola atingiu R$ 2,67 bilhões no ano passado, quase 40% mais que em 2019 e montante 4,4 vezes superior ao de 1990
Por Fernando Lopes - De São Paulo 31/05/2021 05h01 - Atualizado há 7 horas
Fonte: valor.globo.com/agronegocios
A cadeia do amendoim busca diversificar as áreas de plantio, incentivar o crescimento do consumo doméstico e ampliar a presença no mercado internacional com vendas de maior valor agregado. O movimento ocorre depois de ela registrar na última década forte aumento de produtividade, colheita, receita agrícola bruta e exportações.
Em linhas gerais, é o que diz estudo realizado pelo Departamento do Agronegócio (Deagro) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) com apoio da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab). Baseado em dados do IBGE, da Secretaria da Agricultura de São Paulo, do Ministério da Economia e do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), entre outros, o trabalho mostra que o segmento amadureceu e se profissionalizou, mas ainda carece de políticas de apoio específicas e ampliação de investimentos privados para alçar voos mais altos.
Concentrada no interior paulista, a área plantada de amendoim passou de 87 mil hectares, na temporada 1990/91, para 183 mil nesta safra 2020/21. Como a produtividade aumentou 128%, a colheita deverá saltar de 142 mil para 685 mil toneladas. Com preços mais elevados, o valor bruto da produção agrícola foi de R$ 2,67 bilhões em 2020, quase 40% mais que no ano anterior e montante 4,4 vezes superior ao de 1990.
"Com os crescimentos de produtividade e, consequentemente, de produção, esse aumento do valor ganhou tração a partir de 2011. De lá para cá, o crescimento médio real foi de 15,2% ao ano, acima da média de 2,8% registrada entre 1989 e 2010”, afirma Antonio Carlos Costa, gerente do Deagro. O avanço, diz, refletiu aportes em pesquisas, melhoramentos de sementes e a especialização do cultivo, com maior integração entre os produtores e as indústrias. Costa destaca que este é o primeiro estudo setorial feito pelo Deagro, e que outros virão.
A profissionalização da produção veio acompanhada pelo uso de instrumentos mais modernos para financiar a atividade. As contratações de crédito rural do segmento somaram R$ 527,4 milhões em 2020, e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), fonte de recursos com taxas de juros livres, representaram
23,9% do total. Em 2013, as contratações foram de R$ 215,9 milhões, e as fontes com taxas livres responderam por 1%.
Boa parte dos recursos tem sido direcionada às ações para elevar a produtividade, e a expectativa é de novos incrementos nessa frente. Em São Paulo, com área de mais de 154 mil hectares, a produtividade média foi de 4,05 toneladas por hectares da safra passada, e a expectativa é de aumento para cerca de 5 toneladas nos próximos ciclos. Segundo Renato Fechino, vice-presidente da Abicab, mais de 90% da produção paulista de amendoim é em rotação com a cana. “Ainda há muito espaço para o desenvolvimento da produção em São Paulo e em outros Estados", especialmente a partir de ajustes no seguro rural.
Fechino, que preside o conselho da Santa Helena, maior empresa do segmento no país, e coordena o Programa Pró-Amendoim afirma que o mercado interno tem grande potencial, para o grão e seus produtos, mas, para aproveitá-lo, as indústrias têm que estar mais presentes nos pontos de venda e realçar o valor nutricional do amendoim, “que tem as mesmas qualidades de outras castanhas e é mais acessível”. No Brasil, observa, o consumo, que ganha peso nas festas juninas, ainda é de 1,1 quilo por habitante ao ano, abaixo da média global, de 6 quilos. Na China, um grande mercado ainda fechado para o amendoim brasileiro, a média é de 12,8 quilos.
Mesmo assim, e com mais de 90% da produção destinada ao mercado doméstico, os embarques estão em alta. Em 2020, atingiram US$ 443 milhões, somando-se grão óleo, produtos à base de amendoim e torta e resíduos, ante US$ 303 milhões em 2019 e US$ 130 milhões em 2011. O Brasil é um dos cinco
maiores exportadores do mundo. "O cenário é muito positivo. E, além de tudo, o amendoim é nativo de Brasil, Argentina e Paraguai - o que significa que podemos ser beneficiados pelo Protocolo de Nagoya - e se adapta bem às melhores práticas ambientais e sociais”, reforça Roberto Betancourt, diretor do Deagro da Fiesp.